segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Inspiração

Uma vontade feroz e descontrolada me chega violenta sem ser convidada rasgando meu peito com desejos em brasa, me querendo ver versada e apaixonada. Respiro sem medo racionalmente alucinada minha necessidade nubladamente clara de com meus dedos em movimento atravessar a fronteira densa, antes impensada, da criatividade urgente transformada sensorialmente em palavra. Me entrego sem nenhuma condição de tempo previamente mensurada ao que antes simplesmente denso sentimento agora era nada, folha em branco onde sem constrangimentos nua me deixo invisível descrevendo o desespero que vou mordendo entre sorrisos, silêncios e lágrimas. Me penso real e imaginária, me desfaço metáforas sangradas, me reinvento, me corrijo, me reescrevo, até sentir pela sensibilidade jorrada um corpo inteiro, perfeito no texto em que emocionalmente filmada me acho improvável, abstrata. Ainda inconformada me volto insistente e virtualmente cansada ao tudo sem nada, a estrutura isolada incapaz de já ser compreendida, percebida, acolhida, compartilhada. Reparo, desconcerto, observo, me afirmo, me nego e ainda sinto avassaladoramente urgente que necessariamente perder é o que me falta. Percebo a incerteza de não ter conseguido encontrar angustiada a forma encantada, precisa, verbalmente imaginada. Tento teimosa e indeterminada concluir a tarefa que em meu corpo foi sem consentimento pela alma inseminada. Imagino com paciência o universo das letras frutificadas que unidas, paridas, me deixam mais humanamente semente germinada. Processo lento de lapidação atormentada que meu coração com sua solitária ausente calma, trancafiado devorava enquanto em segredo se punia e aguardava. Nada me sobra ao que me falta além da luta pela quase impossível medida definida, esculpida, concretizada. Cada linha musicalmente na métrica inserida afinada no instrumental contexto da historia acusticamente orquestrada. Transpiro a sinfonia não audível que desvendo humildemente nessa inglória mental jornada braçal de literatura em prosa poeticamente operária. Obra que quando concluída é minha marginal morada, em meu corpo publicamente refugiada, de sonhos e pesadelos edificada, minha carne indecente pelo ato de se ler supostamente espelhada. Aberta, escancarada para ser vivida em partidas e chegadas pelo leitor sempre retroalimentadas.

6 comentários:

  1. "Me penso real e imaginária, me desfaço metáforas sangradas, me reinvento, me corrijo, me reescrevo, até sentir pela sensibilidade jorrada um corpo inteiro, perfeito no texto em que emocionalmente filmada me acho improvável, abstrata."

    E te leio e me recorto deste recorte para dizer o quanto concretiza em poema o ato de poemar, assim ler sempre será uma reconstrução para os que aqui chegam, com teus fluxos nos recompomos de Poesia.

    Um beijo

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  2. Querida Monica,

    Lindo demais... a inspiração "baixou" por aqui também após a leitura do seu texto!

    Beijos pra você!!

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  3. UAUUUUUUUUUUUUUU!
    Nem sei o que dizer diante de tamanha grandeza!
    Perfeito! Cada dia se superando querida amiga!
    Bjssssss


    LanaEich

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  4. Querida poeta, encandora menina...

    Você me silenciou com as suas palavras, agora fico aqui lendo e relendo essa obra que é doce aos meus olhos!!!

    Beijos linda!!!^^

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  5. Maravilhoso seu texto!

    Deixei um comentário sobre ele em VIDRÁGUAS.

    SIMPLESMENTE ME COMOVEU POR DEMAIS...Vivo esse "drama" intensamente de ainda estar buscando um ESTILO próprio para contar em palavras seja em versos ou prosa o que tenho a dizer ao mundo. Encontrar o silêncio nas palavras...o equilíbrio, a harmonia que acalma...

    BEIJOS!!!!

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  6. Monica Querida, que a Inspiração siga sendo este sopro de alma sempre. Um beijo grande de Feliz Natal junto a todos teus amores e que em 2011 sigamos cruzando os versos, verseando rumo a mais Poesia a nós e ao mundo.

    Te gosto muito, gracias por fazer diferença em minha vida.

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