sábado, 5 de março de 2016

POEMOGRAFIA. Meu livro novo. Um resumo poético do que sinto.

Já está a venda a versão virtual do meu novo livro Poemografia. Ele é um doce exercício poético, um delicado resumo poético do que sinto. Aqui vai o link para quem quiser adquiri-lo. Espero que gostem.

Monicacompoesia (Moniquinha)

https://store.kobobooks.com/pt-br/ebook/poemografia

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A cidade (dos intolerantes)

A cidade sem olhos é cega
Ela mesma não se enxerga
Não reconhece seus próprios pecados
Muito menos suas falsas virtudes
A cidade está só
Oca de afetos
Abandonada dentro dela mesma
Nela habitam seres sem alma
A cidade desastrosamente não se vê
A duras penas não se lê
Ela é inerte
Incapaz de escrever um futuro
Diferente de seu passado e de seu presente
Doente ela é deserta de sonhos e Humanidade
Exala crueldade
Feroz se alimenta de sofrimento e insensibilidade
E mesmo assim morre de fome
Fome de gente
Fome de ser humano
Fome que ela mesma desconhece
Por isso a cidade sem olhos é fria feito um cadáver
Ela não respira
Não reage
Ela apenas transpira intolerância e medo
Sepultada em sua arrogância
Ela é fétida
A cidade na verdade nunca viveu
Sempre morreu de ódio por si mesma
Desde o dia em que nasceu
Do ventre impiedoso da desigualdade
Ela finge que sobrevive
Para o mundo que a acolhe
Cheio de falsas esperanças

Moniquinha/Monicacompoesia

domingo, 17 de janeiro de 2016

Uma história não contada

Sou uma história não contada
Silenciada entre os dentes
Que ainda rangem de medo
Dos cruéis fantasmas do passado
Não temo
Por pura inocência
Sou o futuro que hoje se apresenta
Livre feito uma menininha
Que ainda desconhece as marcas
Que traz no corpo e na alma
Sigo em frente
Não olho pra trás
Eu não posso olhar
Não há o que ver
A não ser o vazio
Tragicamente provocado
Por condores ferozes
Que devoraram impiedosamente
Quem eu poderia ter sido
O que eu poderia ter vivido
Vivo
Estou viva
Apesar de tudo
Nas entrelinhas do tempo
Não nego as minhas origens
Me orgulho do que sou
Simplesmente uma poeta
Simplesmente uma sonhadora
Simplesmente uma vida
Que o ódio não derrotou
Revolucionária
Como eles foram um dia.

Moniquinha/Monicacompoesia


Sem volta - O caminho de quem escreve

É sem volta o caminho de quem escreve. Nossa estrada é diuturnamente pavimentada por ousadia e medo. Ousadia de escrever o antes impensável. Medo de não obter a palavra perfeita para o momento exato. Busca inglória por uma perfeição que nunca chega. Agonia e êxtase de quem escreve. Dilema. Transitar em meio a infinitos pessoais. Eis a nossa trajetória. Desafiar incessantemente a impossibilidade de traduzir o mais sufocante dos silêncios. Nossa sina. Viver o sonho como se realidade fosse. Ilusão. Ao menos no papel temos o mundo em nossas mãos. E exatamente por isso estamos condenados ao fim. Liberdade. Nada é definitivo, nem mesmo o verso que nos invade enquanto proseamos. Drama. Ficção ou realidade não passamos de um mero exercício literário de nós mesmos. Antropofagia. Somos consumidos até a última gota de suor sem nenhuma piedade pelos parágrafos que escrevemos. Devoramos enquanto somos devorados. Sacrifício. Sangramos hemorragicamente letra a letra. Sede. Sorvemos a taça transbordada de nós mesmos desesperadamente. Por mais que não se perceba é o texto imagem e semelhança de quem escreve. Celebração. Não nos resta outra alternativa depois de percorrer todo o percurso tenuemente traçado que não seja brindar com a fluidez do texto nosso mais profundo cansaço. Nada mais nos cabe. Verdade. Quem sabe? Conclusão. Mesmo quando escrevemos acinzentados pela aridez do tema colhemos flores que nos brotam por entre os dedos feito um vendaval de afetos. Imaginação. Nossos jardins de ideias exalam os mais controversos perfumes. Paixão. Essência poética que nos entorpece enquanto percorremos delicadamente com nossos dedos sedentos as curvas sedutoras do livro que escrevemos. Amor. Palavra que inicia e finaliza a vida de quem escolheu tomar o rumo da palavra. Desejo. Ponto final.

Moniquinha/Monicacompoesia

sábado, 31 de outubro de 2015

Deserto

Nuvens esparsas
De seres humanos
Com suas sombras a mostra
São tristes corpos perdidos
Nessa imensidão de nada
Sem alma
Sem palavra
Sem gesto
No meio da rua
Ruidosamente silenciosa
Trafegam solidões
Nuas de destino
Enquanto grafitam seus olhares a esmo
Sobre corações derramados
Em pleno concreto
Armado
De medos e incertezas
No envelhecido retrato
De uma grande cidade
Cegos se reconhecem
Áridos de amor
Em meio ao deserto
De suas infinitas paixões
São navegantes
De uma desesperança
Quase cotidiana

Moniquinha/Monicacompoesia

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O rumo da história

Ela caminhava distraída
Quando de repente se deparou
Com uma placa cuidadosamente fixada
Em uma porta que dizia:
Passe sem fazer alarde
Pessoas construindo felicidade
Inconformada com as palavras
Que juntas para ela
não faziam o menor sentido
Resolveu corajosamente
Desafiar o que ali
Estava a princípio pré-estabelecido
Saiu entrando sem avisar
Coração adentro
Para escrever-se sutilmente nas entrelinhas
E lá se foi a paixão mudar o rumo da história...

Moniquinha/Monicacompoesia

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A menina, a bicicleta e o vento

Certo dia uma menina
Empunhando bravamente sua bicicleta
Decidiu seguir adiante
Em busca do que não se sabia
Se era perto ou distante
Se era ou não importante
Mas ela queria
E era isso o que importava
Enquanto ela ousava
O vento sisudo
Com ela travava
Uma árdua batalha
Simplesmente por nada
Só que ela não se entregava
Pedalava, pedalava
Com ela o vento ficava
Cada vez mais irritado
Por nada, por nada
Feroz ele uivava
Ela não se intimidava
Sorria e apenas
Pedalava, pedalava
Não desistia
Nem se cansava
As arvores vergavam
O tempo passava
O vento uivava
Só ela seguia, continuava
E pedalava, pedalava
Enquanto sonhava com seu destino
Ela bravamente lutava
Entre uma e outra pedalada
Não perdia a graça
Nem se preocupava
Enquanto com seus cabelos
O vento sem se dar conta brincava
Ela só pedalava, pedalava
A vida no caminho
resolveu acarinha-la
Enquanto ela pedalava, pedalava
Seguiram juntas poema adentro
Aproveitando o momento
Entre uma e outra pedalada...

Moniquinha/Monicacompoesia

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Visceral

Um verso ousado pousou
Desesperadamente na minha Língua
Com um sabor absurdamente agridoce
Nas minhas mais secretas entrelinhas
Desencadeou visceralmente um desejo
Deliciosamente incontrolável
De acariciar despidos silêncios
Infinita e Antropofagicamente
Com os meus sedentos dedos
Eternamente úmidos de poemas
Em carne viva

Moniquinha/Monicacompoesia

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Aos quatro ventos

Em plena madrugada
Ela acendeu uma vela
E fez um pedido
Aos quatro ventos
Enquanto sonhava de olhos abertos
Ardia-se em tempestades
Esperando que o tempo
Trouxesse respostas
Para o impossível que transbordava
Feito cachoeira de seus lábios
Em meio ao silêncio dos seus olhos
Marejados de encantamento
Com o amanhecer
O seu o desejo foi atendido
Sem que ela se desse conta

Moniquinha/Monicacompoesia

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Poema para os Poemas

Meus poemas ganharam o ar
Como se tivessem asas para sonhar
Meus poemas ganharam o céu
Como se fossem anjos a brincar
Meus poemas escolheram caminhar
Como se tivessem pernas para desbravar
Meus poemas escolheram partir
Como se tivessem um coração para libertar
Meus poemas resolveram voltar
Como se tivessem um porto seguro para ancorar
Ah, esses meus poemas
Sempre donos de si
Mesma
Eu

Moniquinha/Monicacompoesia

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Caminho poético

Os poemas seguem
Deslizando delicadamente
Pelos meus dedos
Até exaustos
Encontrarem o papel
Em carne viva
Derramam-se em palavras
Infinitas
Entrelinhas
Onde escondem segredos
Revelam arte
Ao mesmo tempo
Em que desnudam-se
Palavra a palavra
No teu silêncio
Enquanto declamas
Secretamente
Os meus sonhos
Mais proibidos
No teu olhar

Moniquinha/Monicacompoesia

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Se existem Damas elas são do Samba

Era noite. Chovia e Ventava. Mesmo assim chegaram para pré-estreia radiantes como sempre. Cada uma com sua beleza, sua força, sua energia e sua luz. 
Entraram cinema adentro docemente silenciosas sem que ninguém percebesse. Sentaram-se bem perto de Dona Ivone Lara só para admira-la um pouquinho mais. Em seus shows estão sempre presentes. Não deixam de ir por nada.
Aguardaram ansiosas pelo início do filme. Curioso ninguém ter percebido tão ilustres presenças femininas. Desconfio que algumas pessoas até sentiram a energia só não se deram conta da sua origem.
Começava a sessão. Encantadas foram se deliciando imagem após imagem. Cantaram bem baixinho. Dançaram timidamente sem sair da cadeira. Choraram de emoção. Aplaudiram com todas as suas forças numa felicidade só. É tanto olhar, tanta força, tanta luz, tanta doçura que elas chegaram a se enxergar na tela. Quanta homenagem. Puro merecimento.
O filme terminava. Era hora de ir embora. As luzes começaram a se acender enquanto elas levantavam. Pararam alguns segundos para contemplar o momento. Sorriram entre si. Não era preciso dizer mais nada. De mãos dadas seguiram seus caminhos com a sensação de missão cumprida. E lá foram elas Nanã, Iemanjá, Oxum e Iansã...


Moniquinha/Monicacompoesia

domingo, 13 de setembro de 2015

Damas do Samba

Iansã tomou forma de imagem
Quadro a quadro
Pela tela encantou-se Iemanjá
Oxum derramou-se em lágrimas
Apaixonada pelo que viu
Nanã conduziu
As Damas do Samba mundo afora

Moniquinha/Monicacompoesia

domingo, 6 de setembro de 2015

O Pequeno (Refugiado)

Ele acordou assustado como fazia todas as manhãs. Correu para abraçar sua mãe. Ele não era filho único. Compartilhava seus medos com os irmãos mais velhos. Sua mãe amorosamente corajosa acolhia a todos. Tudo que ela sabia era que o tempo de sua família se esgotava rapidamente.
O pai cheio de cicatrizes na alma apenas observava. Seu silêncio ardia em brasa diante da indignação de não poder mais lutar contra o sofrimento diário de sua mulher e filhos. 
Nada a eles restava que não fosse a esperança da fuga, a busca quase que desesperada por um outro futuro. Ousaram sonhar.  Pensaram que poderiam viver em paz. Se não aqui, talvez em um outro lugar. Bem distante.
Imaginaram.
Além mar não contavam com a intolerância que os aguardava de braços abertos.
Sonhavam com a acolhida, com o estender das mãos.
Ainda acreditavam infantilmente na humanidade.
Chegaram a uma conclusão. Que para encontrar com o sonho, para vê-lo de perto, de carne e osso, era preciso partir urgentemente. 
Navegaram-se.
Partiram certo dia clandestinamente. Não tinham outra opção que não fosse seguir adiante.
Dolorosa viagem.
Só contavam com a esperança para acalenta-los.
Apesar de tudo mantiveram-se docemente fortes.
Até o impensável.
O navio.
Seus sonhos naufragaram.
Estão sós.
Enquanto o mar impiedosamente abraça a quase todos.
Os que poderiam salvá-los se omitiram. Como fizeram a vida inteira. Como continuarão fazendo.
O pai sobreviveu. Morto em vida. 
Teve sua alma estraçalhada por todas as feridas do mundo com um único golpe.
Dilacerado nada pode salvar. Nem a si mesmo. 
Perdido de dor foi resgatado.
O pequeno não acorda mais assustado. Seus irmãos não compartilham mais do seu medo. Sua mãe já não pode mais acolher a todos. O pai restou. E seu silêncio continua ardendo em brasa bem diante dos nossos olhos...


Moniquinha/ Monicacompoesia

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A criança morta

A criança morta
Entregue ao mar
Clandestinamente
Chora lágrimas de sal
Desde o ventre de sua mãe
Ousou refugiar-se
Os poderosos disseram não
Tentou viver
A vida se negou
Nada
O mundo lhe ofereceu
Que não fosse a guerra
Que não fosse a dor
Mesmo assim ela ainda resiste
Hoje iluminando o caminho dos que lutam
Enquanto sorri entre as estrelas
Nunca deixe de olhar para o céu


Moniquinha / Monicacompoesia

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Muros a esquerda

Tintas a parte
Os muros foram feitos para a rebeldia dos poemas
Manifesto
Que se anarquize o verso
Que se socialize a alma
Que se descapitalize o sonho
Que se coletivize a idéia
Antes que seja tarde
Antes que os reacionários nos cassem o olhar
O Direito de criar
Antes que matando a Arte
Eles consigam também nos matar

Moniquinha (@monicacompoesia)

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

EUTANÁSIA

Salvem os poemas
E nos matem
Antes que seja tarde
Antes que a insanidade que nos invade
Possa perder sua santidade
Possa morrer de inanição
Pela falta mais absoluta e completa
De desejo pela contestação
Salvem os poemas
E nos matem
De paixão
Ou não

Moniquinha (@monicacompoesia)

POEMOGRAFIA

Decoro sílabas
Com pedaços de papel
Cor de flor encantada
Tranço em tua língua origamis imaginários
Com versos desenhados Nus
Meus mais poéticos pecados
Enfim consigo derramar
levemente nos teus lábios
O declamar insano e ensurdecedor
Do silêncio mágico
Dos meus mais intensos atos
Literários
Pelo corpo dos poemas
Traço sentimentos desassossegados
Faço simplesmente feito tatuagem
Poemografia

Moniquinha (@monicacompoesia)

domingo, 25 de janeiro de 2015

Fenix que (ou)sou

Letra a letra
Sei renascer das cinzas 
parindo versos
por entre meus lábios
sedentos de sonhos
doces feito minha língua
ardente de palavras
que rasgam a minha carne
como se fosse uma folha
de papel em branco
ensanguentada pelo que sinto
enquanto permaneço acordada
com os olhos ensolarados
a observar as vidas
que nunca vivi
nos mais diversos tons
da minha imaginação
enquanto floresço
poemas

Monicacompoesia/Moniquinha

Poema escrito a partir de um dos meus haicais urbanos...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Transgressora

Sou passeata viva
Meu corpo incessantemente
Reivindica ao meu coração
Que ele se rebele desesperadamente
Contra a ordem estabelecida
Pelo meu cérebro que ditatorialmente
Nos impõe
Eu, corpo, coração e mente
Que sigamos a razão diuturnamente
Como se fossemos um rebanho
A ser conduzido de forma consciente
Na direção do abate frio e cruel
Dos meus desejos mais ardentes
Dos meus sonhos mais inconscientes
Da minha literatura mais urgente
Queremos revolução
Brada o corpo loucamente
Não podemos mais viver aprisionados
Pela frieza de uma razão
Que nos foi imposta covardemente
Para nos tornar absurdamente comuns
Vazios, sós e indiferentes
Já o coração discorre horas
Incansavelmente
Sobre a necessidade
De se fazer uma transição pacífica
Democraticamente
Justifica-se
Afinal o medo e a paixão
Transbordam dele igualmente
Enquanto o isso o cérebro falsamente coerente
Do alto de sua materialidade descrente
Com suas artimanhas racionais
Busca sorrateiramente
Nos aprisionar para sempre
Porém não mais que de repente
Surge uma guerrilheira
Transgressora
Disposta a acabar apaixonadamente
com toda ordem vigente
Viva a Arte
Libertária de corpos, corações e mentes

@Moniquinha

Durante dois anos deixei de escrever com a intensidade que sempre escrevi. Fui andar por outros caminhos, me reler como gente. Hoje retorno e como podem perceber não mais assino como @monicacompoesia. Faz parte do processo de amadurecimento humano e literário. Porém, para guardar comigo eternamente, para lembrar para sempre de todas e todos que se tornaram meus leitores amigos por intermédio dessa minha fase literária mantenho o @ na minha assinatura literária. Espero que gostem dessa nova fase. Em breve surgirão outros blogs, novos livros, muitos sonhos. Grande beijo. Bom estar de volta...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

POEMOPOLIS

Um copo de café. Silenciosamente quente entre meus dedos. E mais nada. Era tudo o que eu precisava. Acreditava meu corpo. Negava minha alma. Eu não confessava, não ousava. Mas sabia o que minhas mãos desesperadamente imploravam. Por palavras.
Procurei algumas folhas de papel. Meus olhos as desencontravam. Minhas mãos em um ato insano acabaram achando algumas poucas que restaram amassadas friamente em um canto qualquer da minha mesa. As outras, já escritas, eu destruí sem maiores arrependimentos voluntariamente durante toda a madrugada. Respirei fundo. Estava prestes a recomeçar tudo. Fechei meus olhos tentando não imaginar a dor. Talvez essa fosse uma condição imaginária para que eu não voltasse a senti-la. Processo dolorosamente angustiante é esse o de escrever-se. Sentei ainda sem certezas. Meu corpo trêmulo de razão lutou o quanto pode bravamente. Em um determinado momento sem motivo aparente eu simplesmente desisti de resistir. Não podendo mais calar olhei para o papel tentando encontrar um motivo, um tema, uma história, mas só me encontrei em meio a elas, as folhas amargas de papel com suas inexploradas entrelinhas. Já era hora. Lá se foram minhas esperanças. Que comece o livro.
Era uma vez, talvez duas ou três. Não sei ao certo quantas vezes a história se repetiu diante dos meus olhos, quantas vezes eu respirei o mesmo cheiro de lodo urbano das madrugadas noturnas de medo e provei o sabor amargo das piores experiências de quem existe. O ser humano se engana por puro prazer de sofrer. Sua única convicção é a de que a dor da vida é meia irmã da dor de morrer. Mas ele não pode se dar ao luxo de escolher não viver. Caminhar solitário é a única forma de escapar do que não pode ser. O futuro é sua maior e infinita chance de sobreviver. Só tive certeza disso quando me vi em seus olhos. Hora de me reconhecer.
Eu simplesmente olhava. O momento me paralisava enquanto o desejo me acariciava. Ao redor mais nada. No ar a fumaça da estrada e o perfume da madrugada. Esfomeada. A noite o meu corpo feito deserto devorava. Meu pensamento em múltiplos poemas literariamente se fragmentava. A razão não existia, apenas imaginava. Meu destino insubordinadamente se calava. Tudo a velocidade da luz transformava. Quem ousaria se aproximar para lhe oferecer as próprias asas? A viagem era inesperada. Um convite. Uma jornada. Rastejar impunemente pelas pedras da estrada. Quem abrigará a coragem necessária? Está feito o desafio.
Dois corpos andarilhos. Prosseguir fora dos trilhos. Condição. Completa ausência de sentidos. Colisão. Os seus caminhos a mais nada levarão. Luz e escuridão. Qual dos dois entorpecerá a razão? No rito sagrado da incompreensão asas incontrolavelmente se despetalarão. Ódio e amor se matarão. Anunciada e tola é a destruição. Espinhos sob a forma de bestas entre palavras ressurgirão. Mutuamente de rancores e silêncio se devorarão. Lenta e dolorosamente sangrarão. Sobreviverão?
Destruição. Cegos e mutilados pela contradição. Inimigos são. Escombros de desorientação. Perdida e nua traição. Repreensão com vestes de libertação. Sim e não. Inquietação. A face secreta da desilusão. Decepção. Na fronteira da morte não ressuscitarão. Na borda do abismo não se perdoarão. Separação. Sua almas exaustas ao pó retornarão. Ficção. Em ruínas pelo medo se reconhecerão. Submissão e rebelião. Devorar-se-ão em pleno banquete de alucinação. Se perderão. Ou não. É a antropofagia a única forma de salvação? Especulação. O peso do êxtase. A leveza da revelação. Absolvição.

@monicacompoesia 
(A HISTÓRIA CONTINUA EM http://poemopolis.tumblr.com)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Pequeno poema

Um pequeno poema
de repente nasceu
na palma da minha mão
e eu nem percebi
que ele tinha uma forma meio esquisita
e um jeito bem moleque
de dizer o que eu sentia
descaradamente aos quatro ventos
sem a menor responsabilidade com a métrica
ou qualquer outra necessidade
incluindo a de ser bonito como aqueles
que os bons  poetas escrevem por aí
naqueles momentos quase trágicos
em que acreditam plenamente
que estão morrendo
de amor em estágio terminal
Ele, o meu poema
só queria
e ainda continua querendo
apesar de viver meio deslocado nesse mundo
tão cheio de sabedoria
banhada a ouro que nos rodeia
ser ele mesmo
tolo
comum
bobo
feliz
assumidamente cheio de imperfeições e defeitos
graças a sua mais infantil ingenuidade
de ficção cotidianamente poética
Como qualquer um
como um qualquer
ele apenas se deixou escrever
do meu jeito preferido
verdadeiramente
como é
um pequeno poema
e nada mais

@monicacompoesia

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nomade

Ela seguiu viagem
Entre linhas do poema
Desbravou seus olhos
Mergulhou em seus sonhos
E explorou sem medo cada pedaço
Do território quase infértil das palavras
Nunca chegou a lugar algum
Que não fosse o seu próprio ponto
Final?

@monicacompoesia

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Nascimento

Nasci do verso
Semente de poeta
A rasgar o chão
Em busca de sonhos
Fertilizei meus lábios
Com inúmeras palavras
E raros silêncios
Salivo a minha alma
Necessito tua água
Cega de sede
Procuro-te por luz
Nos meus olhos
Busco desesperada
Dar frutos de poema
Em meio ao nada
Que me desorienta
E me dá asas
Só para te alimentar
Folha em branco
Com as minhas mãos
Eu te beijo
Entrelinhas
Ouso germinar-me
Como prova de amor

@monicacompoesia

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A poeta e o poema

Ela o escreveu como fazia não religiosamente todos os dias. Como sempre após a escrita se manteve em silêncio por alguns longos minutos para que ele adormecesse no conforto do papel que já não estava mais em branco. Permaneceu ali, o acarinhando com seus olhos como uma menina faz com uma flor, cheia do mais puro amor nas mãos. O deixou sonhar tranqüilamente como um menino indefeso enquanto velava suas entrelinhas adormecidas. Algum tempo se passou sem que ela percebesse. Ele então acordou pronto para enfrentar outros olhos que não os dela, algumas vezes com admiração, outras vezes com incompreensão. Mas ele sabia que tudo estava bem, que era esse o seu caminho e que não precisava temê-lo já que percorrê-lo era bem mais que uma necessidade, era sua declaração explicita de existência poética. Ela percebendo a coragem que ambos compartilhavam naquele instante sorriu harmoniosamente concordando com ele. Estava na hora. Ele devia seguir a sua sina de poema. Ela de poeta. E lá se foram felizes postá-lo para o mundo.

@monicacompoesia

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Meu poema

Cansada das dores
Que guardo em meus olhos
Me deitei no teu colo
Abracei o teu corpo
Me aninhei nos teus braços
E adormeci em silêncio
Para nos sonhar entrelinhas
Enquanto escrevo
Em teu porto seguro
Sobre as tuas calmarias 
E as minhas tempestades
Que vivemos a cada dia
Da nossa quase eternidade
Em alguns versos apenas
Meu poema

@monicacompoesia

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Um par de asas

Hoje eu ganhei um par de asas
Elas vieram embaladas em sonhos
Que docemente devorei feito criança
Enquanto te despertava

Hoje eu ganhei um par de asas
Que incrustei no céu da boca
Como se fossem estrelas
Reluzentes de palavras
Iluminadas pelos teus olhos

Hoje eu ganhei um par de asas
E as guardei nos teus lábios
Como se fossem versos despretensiosos
Daqueles escritos sem nenhum medo
De se revelar que é feliz

Hoje eu ganhei um par de asas
Só para voar contigo
Como se fossemos anjos
Entre nuvens de poemas

@monicacompoesia

domingo, 8 de janeiro de 2012

Era uma vez um anjo

Era uma vez um anjo que todas as noites se encantava pela lua que docemente amava. Apaixonado achava que a conduzia docemente em suas asas, mas era apenas uma luz brilhante que o iluminava. Infantilmente ele buscava em seus braços encontrá-la, mas ela distante não se aproximava e só em seus olhos habitava. Diariamente seu sofrimento aumentava. A cada madrugada ele incansavelmente a procurava. E quanto mais voava menos se aproximava, mesmo assim não parava. Batia as suas asas já feridas e cansadas contra as nuvens que perfurava. Não se desesperava nem se acovardava.  Piamente acreditava que mesmo abatido por amor valia essa jornada. O anjo nunca descansava. Dizem que até hoje ele insiste em voar a procura de sua amada disfarçado de poeta.

@monicacompoesia

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A menina e o tempo

Ela deu um passo
Ele voou
Ela saiu correndo
Ele não parou
Ela ficou cansada
Sentou na calçada
E esperou
E o tempo?
Ah, esse nunca mais voltou

@monicacompoesia

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A menina que perdeu as palavras

Certo dia, enquanto andava livre e despreocupada, uma menina perdeu as palavras. Desesperada e com muito medo de nunca mais pronunciar nada decidiu achar um caminho para recuperá-las. Em sua árdua jornada a elas incansavelmente procurava. Para nossa surpresa, de forma absolutamente inesperada, a pobre moça que já não mais falava, esperava ou acreditava acabou as encontrando muito bem guardadas no fundo de um olhar que sem querer encontrou o seu.

@monicacompoesia

A escritora

Pegou uma folha de papel em branco como quem carrega nas mãos todos os sonhos que ainda não teve e colocou sobre a mesa. Sentou-se. Segurou um lápis, daqueles bem simples, do tipo que se acaba em poucos versos, e em silêncio ficou por longos instantes admirando os dois como se eles tivessem vida própria, se é que não tem. Encantada, em um estado de quase adormecimento fechou seus olhos por alguns eternos momentos. Sentiu tudo a sua volta ganhar outras proporções indefinidas. Recobrou sua consciência quase perdida e deixou-se levar apaixonada pelo doce movimento das palavras. Sem saber hipnotizada pelo seu próprio coração ela versava.

@monicacompoesia

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Por um minuto apenas

Acriançou-se
Diante dos meus sonhos
Feito jóia rara
Diamante bruto
Lapidou os meus lábios
Sem nenhuma palavra
Brincou de poemas
Com os meus olhos
Por um minuto apenas
Tudo ficou eterno

@monicacompoesia

sábado, 12 de novembro de 2011

Silencio

Silencio
Meus versos dormem
Pois estão cansados
Das dores do mundo
Que sinto na carne
Quando os escrevo

Descansam serenos
Dentro do meu peito
Para acordarem refeitos
Para encontrarem a paz

No momento incerto
Quando só percebo
Que está na hora
De se ir embora
De voltar a vida
Sigo com cuidado
Mão a mão, olho a olho, passo a passo
Com um certo medo
De não conseguir acordá-los
A acarinhá-los

Lentamente
amorosamente
Abro meu peito meio sem jeito
Em um único ato
Para que eu possa livremente
Através dos meus movimentos
Quase inconscientes
Despertá-los

Lá vão eles
Entre os meus dedos
Novamente
Me fazer vivê-los

sábado, 8 de outubro de 2011

A única coisa


A Minha língua
é a única coisa que tenho
para escrever a sangue frio
tudo o que sinto e penso
na carne viva do tempo
que eu perco sem perceber
todos os dias enquanto vivo
palavra a palavra, silêncio a silêncio
a cada movimento dos meus dedos
no mais profundo dos meus desejos
sem razão nenhuma para dizer
o que acho que sei
quem sou

@monicacompoesia

domingo, 2 de outubro de 2011

Tolas



Fingem minhas mãos
Que nunca se escrevem
Tolas desconhecem
Ou quem sabe até se esquecem
Que tu sempre as reconhece
Nas entrelinhas onde adormecem
Todos os meus sonhos

@monicacompoesia

Escrita em tempo real no Facebook :])

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fome


Brinco em tua língua
enquanto me devoras
as palavras
para saciar tua sede
de saber quem sou
sem que eu saiba
quanto mais me consomes
menos me matas
a fome
tu me sacias
quando escrevo
sobrevivo sempre
em tua boca
com as minhas mãos
escrevo-te
nos versos
em que pensas
que me lês

@monicacompoesia

Escrevi ontem estes versos em tempo real no meu mural do Facebook ( Monicacompoesia Poeta) :])

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Coisas Poéticas - O livro



Atendendo ao pedido dos amigos que carinhosamente me leem também disponibilizei este livro para compra em http://www.bookess.com/read/9619-coisas-poeticas/

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Silêncios


Seus olhos em silencio
Seu corpo ao lado dela
Sua língua na flor da pele
Seus lábios em carne viva
Seus ouvidos escutam ofegantes
Sua alma vaga perdida
Anoitece
Nada mais lhe resta
A não ser
Morrer
De amor

Título gentilmente sugerido pela doce Elsa Maria Cunha em meu mural no Facebook

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pseudo ensaio sobre poetas e versadores

Escrever não é a arte dos sonhadores, mas sim uma forma de inadministrar todas as incontroláveis dores e os sentimentos mais devoradores que ficam a fantasmagar pelos corações que de tanto versar não se sabem pensadores. Escrever é um dos atos mais desesperadores, uma mistura alucinada de ódios e amores, uma necessidade antropofágica de entorpecimentos criativos e criadores, uma droga barata de doces efeitos devastadores na pele maldita em corpos de papel inquietos e provocadores da própria palavra silenciada diante dos seus olhos infiéis e inquisidores. É transformar em espinhosas flores as letras que se ferem quando tem sua anatomia inocentemente modificada por instintos transgressores que desabam mares intermitentes de descontrole pelas sangrentas mãos machucadas por desejos libertadores. Jardim onde dedos indecentes e agressores durante a árdua  batalha literária esfregam feridas urgentes de amores  literariamente forjadas como prova da luta feroz em silencio cegamente travada por ousados temores. É o disparar sem nenhuma conseqüência racionalmente esperada com armas de carne poeticamente lapidada projéteis de vida em algum peito marginal que resiste de forma heroicamente acovardada a ter só uma única razão definida na alma. Escrever é mortal. Sobrevive a paixão visceral. Estado inconstantemente terminal. Entranha emoção. Dilacera por opção. Morre e vive. Em nós.
Cabe ao poeta se desatar entre nós através da representação gráfica e inesperada lentamente imediata da solitária voz que ensurdece as confissões mais primárias, represadas e contaminadas por um medo inconsciente e feroz durante a relação diária individualmente coletiva fisicamente estabelecida entre pessoas friamente nelas mesmas esquecidas durante o pleno exercício de uma superficialidade consentida por uma sociedade absurdamente construída de ausências de si. Atroz. Restos de raso. Desertos. Miragens em um verso. Secretos. Mistérios. Revelados por seres incompletos. Estéticos. Sem senso. Proféticos. Além do belo em seu universo. Desconexos. Dentro de um padrão que espelhado não permite reflexos. Por defesa de seu mundo entreaberto. Despertam. Auto predadores de sabores métricos. Suas próprias presas. Mordem verbais a norma que não se obrigam. Escrevem porque precisam e duvidam.
Se negam poetas e se portam como cruéis versadores, nobres sem estirpe, auto endeusados, amoralizados senhoras e senhores, donos de uma autoridade ditatorial que se esconde cheia de literários maus odores em falsas verdades apodrecidas dos que da arte se acham únicos sabedores e legítimos detentores. Hierarquizam mentalmente como se fossem grandes conhecedores o nível de prazer dos que consideram candidatos depois de seus ensinamentos imaculados a escritores. Relegam a último plano o desejo legitimo de todos serem sem medos repressores poéticos criadores. Desrespeitam os transgressores sem entender seu sentido. Vivem para descaracterizar o indefinido. Obrigam todos a eles darem ouvidos. Torturam com suas idéias os que se negam a isso. Liberdade para estes é suicídio.

Em fins, recomeçamos. Escrevemos sem limites, destinos, métricas, teorias ou planos. Estamos. E não nos cabe mais que isso. Precisamos. E em virtude disso pelo direito a paz lutamos. Mesmo que o preço para tanta coragem seja o precipício cavado por seres que detestam a sinceridade com que nos expressamos. Não lamentamos. Seguimos vivos, humildes e humanos. Não nos negamos. A ferro e fogo escrevemos o que pensamos. Ousamos. Não toleramos os que tentam nos dizer quem ou o que somos. Contrariando quem pensa que nos maltrata democraticamente nos rebelamos. Poetas. Somos e ponto. Final.

domingo, 19 de junho de 2011

Carne viva - Texto II (A retomada do diário)

Última. Nada mais. Só. Mais uma. Sem palavras. Esquecida. Amarrotada de fingimentos pelo tempo. Implacável, amargo e irrevogavelmente lento. Amarelada por ausências que cristalizadas ainda me ardem por dentro paralisadas pelas lágrimas que não se verteram quando eram esperadas como as principais convidadas no ato que se encenava em teatralizado momento e manchada pela substância friamente abstrata da inconsistência compacta e ferozmente inalterada do meu clamoroso silêncio. Fruto imaturo de um final que como promessa foi redigido entre palavras decompostas de tanto apodrecimento que eu no conforto da máscara premeditada esculpida a decepções e mágoas por mãos cadaverizadas não mais me lembro. Se foi. Cumprido. Duvido. Não me surpreendo. Agora escrevo com outros tons sangrentos na folha abandonada que quase em branco ainda repousa pálida no meu diário assombrado por pensamentos. Mal ditos. Lugar onde hoje me habitam retratados com a disfarçada arte de um esfarrapado convencimento fantasmas devoradores de paz e amplificadores dos meus cruéis, inexplicáveis e indisfarçáveis gritos amenos, íntimo confessionário falsamente imaculado pela grandiosidade dos arrependimentos que diariamente mato e ressuscito. Sigo. Desbravando pelo papel com meu coração do corpo injustamente banido a rota impiedosamente escavada durante a construção interminada da obra visceral que excessivamente estagnada me tornou lapidada de esquecimentos infinitos. Enfim compreendo. Em cada traço procuro com meus dedos desesperançados em incompleto adormecimento o passado arrancado do universo acinzentado que habito por letras derramadas ao vento para cicatrizar carne a carne, pedaço a pedaço, ferimento a ferimento, a vida que consumi alucinada no transcorrer dos meus fracassos disfarçados de emocional comprometimento. Noturna desfaleço minha consciência sem abrigo. Na escuridão da razão as avessas não o leio que digo. Para me iluminar com um olhar não assumido acendo a chama do meu inferno artificialmente construído. Fogueira santa de onde retiro levemente os restos da pele que me reveste e defende como se folheasse um livro. Reabro com angústia e sofrimento as marcas das lembranças esgarçadas daquilo que só a ele foi contado mesmo quando não visualizado pelos meus olhos embaçados ao extremo como meio de exorcizar os monstros que criei temendo em vida ter morrido. Me escrevo, repenso, declaro e não admito. O que me fez negar tudo o que a meu respeito descobri neste mundo tão complexa e intensamente distorcido? Como posso saber se sou exatamente aquilo que lembro e reflito? Ficciono-me?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Confessionário dos Anjos - Anjo Mal dito

Eu resisto. Luto bravamente para escapar das garras envenenadas do meu martírio. Minhas asas sangram imaculadas transpassadas por cristais vivos. Me dispo de todas as suas chagas para ser escrito. Insisto na purificação do mal que imaginária mente habito. Não devo calar minhas mãos dilaceradas por isso. Rabisco. Sou traço amargurado em lábios sem sentido. No espaço das palavras infinito. Entre lágrimas assisto. A loucura dos Homens e deles covardemente desisto. Ando em farrapos hemorrágicos por isso. Sou poeta. Mal dito. Escrevo teus olhos no meu corpo salgado consumido. Ensurdeço na boca onde te abrigo. Superficialmente resumido. Destrocei acidamente ferido todas as minhas noções estéticas do ato de estar vivo. Banido. Me tornei enevoado no teu grito. Sou apenas um quadro quase destruído entre imagens derramadas pelo não dito. Não mais me acredito. Em verso amaldiçoado ainda vivo. Em pedaços. Ressuscito. Intencionalmente escrito. Pelos dedos onde padeço no que não deve redigido. Profano ferozmente o que duvido. Renasço Fênix nos teus ouvidos. Meu silêncio é castigo. Com sentido.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Carne viva (Livro novo) Texto I

Pegou um copo e o encheu de fracassos. Bebeu seus arrependimentos amargos em um único gole. Acendeu um cigarro sem maiores vontades em seus lábios pálidos e covardes. Tragou sem esperança e piedade toda a sua quase felicidade. Espalhou aleatoriamente as cinzas de si mesma pela emoção que nunca a invade. Apagou uma ponta acesa de ilusão na pele que falsamente arde. Levantou-se insegura como uma criança que aprendendo a andar sente medo ir ao chão da sua mais primitiva e proibida verdade. Foi até a janela da sua infância apavorada com a fantástica possibilidade de uma aterradora visão imaginária da realidade. Externamente se viu quem não mais era, uma pessoa muito mais feliz e sincera do que a mulher escondida nos escombros da sua solidão educada, formal e singela. Resolveu então descobrir no que se transformara sem o disfarce da maquiagem que a fazia uma tela. Queria saber por onde sangrara a mulher que seria se suas opções tivessem sido bem mais plenas dela. Foi até o armário com a alma completamente despida e como se escavasse as profundezas da terra abrindo ferida algo procurou. Diante do que achou seu coração por instantes paralisou. Agoniada incontrolada se recuperou. Pegou uma caixa onde sua adolescência sem rituais enterrara com a agressividade de uma fera alimentada pela carne putrefata da dor e seus demônios libertou. Quando a abriu se apavorou. Nela se refletiu. Reviu o que nunca contou. Pegou sua história e novamente a vestiu desorientada praticamente sem temor. Descolou do rosto sua reluzente mascara longe dos imaginários perigos da paixão que um dia sedutora provocou nos trapos de um sonhador e no segredo do quarto infernizado por fantasmas de sentimentos quase abandonados entre lágrimas e silêncios atormentados se deitou no chão frio do seu ínfimo espaço aos pedaços para negar a palavra que um dia verbalizou. Amor. Não dormiu. Se devorou. Queria fugir, mas não conseguia se nutrir da força necessária para resistir a razão que a alucinava quase febril seu desejo dominador. Cansada decidiu não mais lutar contra o nada que artificialmente a pariu. Reabriu seus rastros e começou a vagar entre os espinhos de cada recordação cravados a frio nas pétalas das folhas viradas no ausente brilho de seus olhos vazios. Pela primeira vez em uma quase eternidade se encontrava viva caminhando pelas linhas infinitas do seu diário. Secreto livro partido em pedaços pela confissão de um corpo envelhecido, vencido e embriagado pelo tempo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Confessionário dos Anjos - Anjo Imaginário

Uma fábula. Sei o que sou na história mal traçada que na pele nunca se contou. Um resto puro da alma impublicada que da métrica dilacerada não se salvou. Minhas asas tem sede daquilo que o corpo nunca materializou, o verso perdido que a palavra encarcerada a boca acovardada não libertou. Sou fruto mordido do teu sonho devastador que em arrepios sombrios de febre e amor brotou noite em dia no fundo dos olhos que o pensamento de medo em letras vazias se ardeu e de desejo silenciou. Em teu sorriso resido fugitivo da lágrima que rolada um dia enxurrada já me carregou. Um impreciso nascido pelo desespero vencido em meio ao vazio em que respiro o martírio no peito com frio, sem brilho e sem cor. Vivo no precipício indefinido redigido pela inexistência da minha dor. Existo? Quem contou? Permaneço escrito no limite deturpado de ser lido vivo consumido no texto que se apagou. Insisto no verso que me criou, apesar de não acreditar na realidade da palavra que um dia com poesia antropofágica me devorou. Busco feito infante um paraíso nas trevas distantes da imaginação errante onde meu corpo de mísero diamante permanece sangrando cortante em um vitral falsamente gigante colorido pelo sangue concreto, hemorrágico e inconstante do arrependimento dilacerante pelo sentimento que não se ousou. Com o poder subtraído do criador pensas que reflito a imagem e semelhança do que se determinou. Espelho? Jamais me condenou. Meu texto? Estilhaçou.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Confessionário dos Anjos - Anjo vingador

De mãos desertas e asas em pranto derramo com minha espada o sangue das feras que habitam com crueldade corpos humanos. Trago no peito como escudo palavras sinceras e nos olhos cegos de desengano todos os versos escritos durante anos no sagrado livro aberto dos meus sonhos como forma de livrar inocentes da Guerra, do desamor, da violência, do egoísmo e do desencanto. Apesar de todas as batalhas vividas em minha existência devotada a tudo que mais prezo e amo, me mantenho poeta diariamente sem paz procurando por corações verdadeiros mesmo que estejam sem fé se esfacelando. Entre céus e trevas sorrindo ou em lágrimas ainda me rezam Anjo. Não sei se tenho capacidade celeste para tanto. Acreditam que livro almas do sofrimento que elas mesmas se impuseram através de atos covardes e insanos. Minha missão irrecusável me custa o encanto, pesado fardo que carrego corajosamente ao cansaço não me entregando. Pago com um sofrimento que palavras simplesmente são incapazes de mensurar o tamanho. Nele sinto minha dilacerada alma hemorragicamente escoando pela árdua convivência com as chagas putrefatas do egoísmo que feito peste se espalha entre os seres que vivem rastejando. Como Anjo que combate sem cessar o horror miseravelmente desumano sigo Vingador o que pela esfera superior me foi determinado através de seus misericordiosos planos. Combater o mal seja ele sagrado ou profano já violentamente introjetado no seio de alguns como esfomeado cancro.  Aos poucos perco a esperança que um dia me fez guerrear para corrigir os erros que foram se materializando nos que assistem impassíveis a sociedade concretamente se destroçando. O destino nunca será traçado por aqueles que buscam acolhida na monstruosidade que transborda fétida do lodo humano. O livro arbítrio é um caminho que pode ser bem trilhado exclusivamente pelos que se amam. Luto contra aqueles que escolhem seguir violentados a vida violentando. Sigo por entre estradas que me vão me martirizando passo a passo, dia a dia, ano a ano, mas não ouso me sentir tentado em provar o esgoto que muitos endeusam e veneram para meu desespero e espanto. Minha sobrevivência é a única esperança dos poucos que tenho ao meu lado como nobres corajosamente as suas armas empunhando. Preciso vencer o que deseja ter meu peito em seus vermes infectos rendido se afogando. Um dia serei recompensado pela fidelidade que carrego digna de todos os Anjos. Com o meu descanso. Em paz.

terça-feira, 29 de março de 2011

CRIATURAS - Histórias de amores e trevas (trecho do livro) @monicacompoesia

Uma taça de vinho do corpo e mais nada. De sangue um brinde a minha inexistência traída e atormentada pela dor de quem em vida nunca passou de uma pessoa perdida entre palavras delirantes e apaixonadas, hoje um Senhor de mortes anunciadas. Um devorador de si mesmo a sorver o sangue alheio pelo simples desejo de uma existência falsa, um ser sedento de uma juventude que nada mais é do que meu próprio instrumento cortante em uma tortura imortal que me rasga o caráter de forma irreversível e fantástica com uma sedutora beleza que sem defesa como presa a todos mata. Um não refletido no espelho caçador de almas, capaz de conceder feito um rei a eternidade mais cruel e ensangüentada como prêmio pelo prazer de se deixar aprisionar em um universo vermelho de dores e lágrimas. Não passo de um fazedor de vitimas dominadas pela vontade inconsciente de lentamente serem assassinadas para que possam em seus próprios corpos, agora estranhos, renascerem como monstros no lodo nojento das suas trágicas trevas internalizadas. Vampiro, eis aqui verbalizada a minha trajetória maldita jamais terminada. Minha primeira mordida não foi premeditada. Foi fruto da ira faminta do meu corpo em estado de morte sem vida anunciada. Sugava o que me devorava, a sede de vida que me faltava. Quanto mais bebia menos me saciava. Só, de dor me dilacerava enquanto um pescoço desconhecido com os meus dentes indecente eu retalhava. Cego, com a boca molhada sedutora sem palavras, despido pela cor do sangue que me banhava estava eu no inicio de uma jornada que não teria fim nem pausa. Rota traçada que me faria exausto, sem parada, um ser sem destino no meio da minha própria estrada. Minha sina já estava revelada nos meus olhos vermelhos de desejo alheios a sofrimento e mágoas. Não me caberia mais a paz na alma no universo das minhas trevas alucinadas. Aprendi que viver para sempre é apenas uma morte cristalizada. Rastejante, sou um herdeiro do nada. Verme andante, cavaleiro errante, caçador de sangue, mordi a mulher que amava. Minha primeira vítima foi também a minha maior praga. Condenado fiquei com a imagem gravada dos olhos de minha amante, mulher encantada, sofrendo no instante em que era por seu amado miseravelmente devorada. Suguei seu corpo e o resto de dignidade que me restava. A matei em meus braços no descompasso da fome que me torturava. Ainda não sabia controlar meus impulsos famintos que por instinto como um felino me estraçalhava. Não consegui salvar da morte, me condenando a sua própria sorte, a mulher que por mim era apaixonada e eu perdidamente amava como quem ama uma flor, perfeita, intocada, doce e mágica. Sabia eu que sem ela não seria nada. E nada sou. Ao matá-la morri nos meus lábios, no nosso abraço, na união dos nossos corpos entrelaçados. Morri com meu eu em sofrimento apaixonado. Quando renasci animal saciado percebi que era eu meu maior condenado. Como poderia um dia por minha consciência ser perdoado? Destruí visceralmente meu passado. Cravei os dentes ferozmente sem fé e noção de pecado na mulher que inocente me amou e desejou estar ao meu lado. Escolhendo errado sentenciou meu futuro a um eterno reviver do passado. Pago com a culpa os meus pecados, repetindo todas as vezes a mesma historia em outros corpos que mordo para sugar a mulher que nunca acho, está morta, viva em meu passado. Rastejo em pedaços pela noite cheio de dor e cansaço. Por onde passo escrevo no cheiro os males que faço. De fome fiz nascer minha maior dor, meu primeiro assassinato. O sofrimento meu companheiro se tornou na escuridão onde todos os dias eu me mato. Fiel a ele eu sou. Parceiro noturno, bebemos silenciosos a dor. Procuro no sangue de cada mulher a que um dia meu animal devorou. Quero amor, mas ofereço desespero e pavor.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Letras ácidas

Salivo letras ácidas em folhas brancas tatuadas pela escuridão transparente do vazio nos olhos da minha alma. Meu silêncio é fonte incessante da minha busca pela expressão definitiva e inconstante daquilo que vive como matéria disforme e provocante em meu peito poético de veias cortantes e nua carne entre versos milimetricamente viciantes. Descubro escrevendo o que me completa e falta através do exercício proibido e delirante da inexistência impura, vadia e apaixonante da palavra. Simultaneamente me condeno ao chão sujo e me absolvo em nuvem purificada. Transito com intimidade entre inferno e paraíso com a mesma turva clareza que diariamente me ressuscita enquanto me mata. Sou poeta e mais nada. Minha substância interna, exposta, humana e sangrenta é agridocemente inexplorada. Pelo texto me submeto ao interminável desafio de alcançar a obra finalizada. Meu ponto de partida é sempre a minha chegada. Minha arte é literariamente inacabada. Continuo...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Confessionário dos Anjos - Anjo Caído

Caído, perdido, bandido. Sou o Anjo que contrariou aquilo que foi determinado, obrigado, estabelecido. Transgredi, ousei e me perdi. Banido, machucado e cansado eu mesmo me bani. Como Anjo deixei aparentemente de existir. Na sombra me refugiei, da claridade me escondi. Destroçado, destituído, ferido e marcado até do meu corpo eu fugi. Quando menos esperava em chagas entre lágrimas apavorado e cego eu me vi no que mais queria apagar, negar que ainda pudesse sentir. Vivo ainda estou, sobrevivi atormentado e abrigado aqui. Apesar de tudo sou exatamente nu de verdades como nasci mesmo que hierarquicamente tentem com máscaras e mortalhas me vestir para minhas funções de exercer me impedir. Me surpreendendo eu inesperadamente a todos surpreendi.  O monstro que desejavam que em mim estivesse não habita realmente aqui, sou apenas um ser que diverge daquilo que afirmaram um dia ser o único caminho certo a seguir. Minhas asas contrariam tudo o que me obrigaram humilhado a provocar e em outros como um espelho torto sangrando refletir. Não me entreguei, mesmo com medo lutei e sofrendo entrincheirado entre dores resisti. Não pelo mal que dizem que sou capaz de infligir, mas pela coragem de optar por algo diferente do que os outros em massa disforme coletivamente acham que querem pra si. Individualmente quero poder pacificamente agir. Para isso fui autoritariamente condenado a jogado cair. Sei os motivos que me permitiram conseguir sozinho em queda não me despedaçar, me destruir. Eu não estou só. Alguém me protegeu. Eu desacordado não vi. Quem estará ao meu lado? Como posso descobrir? Esse é o único medo que carrego comigo e me impede francamente de prosseguir. Fico pensado paralisado no tempo se tenho algum destino a cumprir. O que devo sobre minha vida descobrir antes de qualquer coisa decidir?

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Coração nos olhos

Os meus versos provo com o coração nos olhos e a boca nas mãos. Entrego em um silêncio cúmplice e imperfeito cada detalhe da minha transparente e incoerente criação. Transpiro sonhos nus sem contenção pelo meu corpo retalhado de desejo e emoção. Verso agridoce que escorre sem medo ou restrição pelos ares incendiados da minha poética e ofegante respiração. Meu olhar embriagado e atordoado de inspiração é feito a partir da pele que reveste cada traço tatuado da carne onde navego em sentimentos a minha paixão. Sinto o gosto da palavra que devoro antropofágica com ousada determinação. Escrevo sem regras e livre de punição cada sensação que secretamente descrevo nas entrelinhas da minha pública e mais incompleta confissão. Poeta, não me prendo as duras celas de qualquer razão. Minha prisão verdadeira está na coragem do amor libertação. Eu vivo Fênix sempre perdida nas asas de alguma covarde ilusão. Sei que sou um fruto da sua imaginação. Duvidas? Eu não.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Confessionário dos Anjos - Anjo luz

No queimar das minhas asas me confesso um Anjo em brasas. Com meus olhos ardendo em chagas enxergo na dor dos outros a minha própria alma. Diante de cada sofredor ofereço em silêncio o que me falta, o alivio através do amor para os que superficialmente protegidos em suas cicatrizes e máscaras infinitamente deformados se maltratam. Minha condição involuntária não possui outra opção que não seja a de voar na direção das pessoas que solitárias anseiam abrandar o efeito devastador da vida que injustamente as dilacera sem paz e calma em uma tortura que enquanto não as mata leva consigo a esperança que alicerça as últimas gotas de uma coragem que ainda está secretamente quase intacta. Sou o Anjo consolador das feridas alucinadas daqueles que jogados na sarjeta pela ausência de doces palavras para o abismo o desamor arrasta, dos que mergulhados no lodo do ódio se afogam no oceano podre da sua própria desgraça e dos que morrem vivos quando se veem adormecidos no labirinto indefinido das suas concretas envenenadas mágoas. Sou aquele que em uma luta inglória e ingrata quase que diariamente salva os que inconscientemente se deixam entregues a sentimentos que abertamente seus corações violentamente de insegurança esmigalham durante estúpidas revoltas enlouquecidamente sangrentas e ácidas que cegam de pesadelos a razão das suas existências atormentadas. Iluminando trevas escureço noite as minhas lágrimas. Meu corpo jovem esconde o desespero com que a eternidade faminta e insaciável de calor me rasga. Sempre entrego meu abraço a quem nunca me abraça. Minha missão é a de resgatar pessoas que não querem ser resgatadas. Eu salvo. Nunca ninguém me salva. Confesso, sou o Anjo que desejava. Ter.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Confessionário dos Anjos - O acolhedor

Acolho Anjos. Minha tarefa é ser deles o ombro amigo que cansados buscam tanto, um protetor que com seu aspecto estranhamente humano e um carinho meio insano tenta em um esforço religiosamente profano aliviar a agonia e enxugar o pranto do coração daqueles que, estando no chão ou voando, cuidam com dedicação, determinação, poesia e encanto dos que sobrevivem se afogando diariamente em oceanos repletos de desengano ou paralisados de medo diante da possibilidade do mergulho profundo em desafiadores sonhos. Não tenho uma missão das mais fáceis, mas não me resta nenhum outro destino que não seja o de cuidar com amor e carinho daqueles que de vez em quando molham suas asas com a chuva do seu desencanto, nobres e doces voadores ciganos, apaixonados e decepcionados pela razão do ser desumano. Sou porto seguro dos que velejam pelo ar, dos que ousam em pleno céu navegar com o único objetivo de incondicionalmente amar. Nunca se confessam, mas se revelam espelhos no olhar. Seus segredos todos estão escritos lá, onde só quem tem a coragem de acreditar consegue enxergar. O lugar preciso não devo contar, mas posso dizer com certeza que só através da simplicidade e da grandeza de se dar alguém um dia pode generosamente localizar. Hoje começo aqui a confessar o que trago guardado comigo em segredo a me machucar, quebrando assim a confissão dos Anjos sem nenhum medo de ser punido ou pecar. Sei que meus motivos são capazes de me perdoar. Quero que todos saibam suas histórias reais. Quero provar a todos que eles existem e são normais apesar do defeito de viver o amor demais. Ou será essa a maior virtude dos seres Angelicais?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Inegavelmente necessários

Todos os versos são vadios até que reprovem os contrários. Mesmo assim se lamberão feridas cheias de pus literário entre rasgos poéticos extraordinários. Todos os versos são transparentes e claros até que moralismos cinzentos e sem luz tentem abafá-los. Mesmo assim continuarão céus azuis iluminados, encravados verbo cruz libertário em imoral incondicional calvário com ousadia e sentimento de inferno métrico purificado. Todos os versos são obscenos até que os puritanos se sintam maculados. Mesmo assim continuarão nus ardendo intensos no fogo sagrado do som imaginado contaminado loucamente pelo prazer inocente e despudorado de se renascer livremente empoetado. Todos os versos são escritos aleatoriamente indeterminados até que os pessimistas desejem racionalmente encerrá-los. Mesmo assim não encontrarão motivos verbais para de razão paralisante injustificadamente aprisioná-los.Todos os versos são mágicos, puros e encantados até que o ser humano decida covardemente desaprender a ser amado. Mesmo assim, contrariando os que com medo do coração vivem calmamente em trevas, desesperados, continuarão vivos, sinceros e apaixonados. Todos os versos são inegavelmente necessários. Mesmo assim...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Encontro - Poesia e Poeta

Acordei em sonho a minha procura e lá estava ela nua. Reconheci sem dúvida aquilo que mais me apaixona e tortura. O reflexo distorcido em palavras da minha ensandecida figura. Chorei atormentada de prazer vestida poeticamente de loucura, ceguei minha razão amaldiçoada de imaginação pela ausência de culpa, descontrolei com uma emoção mais que absurda as minhas mãos corajosamente inseguras que por medo escondia da exposição literariamente pública e com paz silenciosa humanamente me fiz sangrenta luta. Não mais dominava os traços que me desenhavam alucinada entre as linhas turvas que desencontradas nela em papel se faziam verbo escultura. Ousada e impura observava ela sem métrica cada movimento que em minha vida internamente pulsa como uma fera que concentrada devorar sua presa busca. Em silencio me traduzia sedenta na mesma língua carne crua enquanto em guerra interna eu redigia como se cada letra gritasse o que a alma na pele oculta. Na noite da sua face em fases me descobria lua. Transformada ao criar renascia lapidada e bruta. Meu corpo calmaria absoluta. Em ciclos minha vida arte muda. Vencendo a batalha enfim eu me vencia. Poeta com um olhar que não refletia desconhecia a importância do encontro real com o que antes covarde fugindo eu não sentia. A presença amarga, doce, sedutora e inevitável da Poesia. Sem a qual não viveria. Adormeci.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A carne viva da alma (de um Cisne)

Com as vestes das suas chagas nua estava. Trazia na pele tatuada múltiplos retratos em carne viva da alma que a cobriam inutilmente tentando cicatrizá-las, feridas ardentes incrustadas de dor e palavra. Da vida ela mesma não se sabia nada. E na morte inconsciente anunciava que em um fim não acreditava. Fingia que vivia nas nuvens enquanto em pesadelos se sonhava. Sua boca vadia bailava, mordia e traía livremente as palavras. Sua língua de menina salivando machucando machucava. Seu silencio sereno a guardava enquanto indecente atormentava. Doendo pelo corpo ela sorria, versava e chorava. Se temia e se amava alucinógena alucinada. Bebia o veneno transbordante da vida que de suas veias jorrava. Poesia que pulsante não se acabava. Suicida era só no texto do silencio uma orgia enlouquecida que criava. Sua força racionalmente aparente instintivamente ela apagava. Seus olhos cortavam feito faca. Desejo de navalha. Amor que ataca o sentimento feroz que não salvando a perfeição se atava. Uma batalha no seio travava. Sangrava. Provava. Terminal vomitava. Entrelaçada era ela muito pouco em talvez um imenso nada. Resistente ela em fuga se entregava. Urgente lentamente ré nascida se denunciava. Uma personagem que urrava quando magia não criava. Se parindo sozinha estava. Brincante de frustrações e lágrimas entre letras, sons e luzes embaralhadas. Errante desconcertante morria em fuga desacertada do palco onde revelava quem cega negava. Quem será a mulher aprisionada em tantas linhas não traçadas? Figurada de sentido desfigurada. Quem é ela?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Interminar

Escrevo aqui reflexos inevitáveis do meu olhar. Revelo minha capacidade nenhum pouco mágica de sonhar. Sou meu próprio oceano, de versos mar. Convido a todos os que tem coragem para navegar solitários nos meus maremotos de pensar. Quem é capaz de se entregar? Quem tem medo de se afogar? Se abra velas olhar, se deixe entrar, no próprio barco do seu corpo velejar. Em troca ofereço meu desejo confesso e cego de criar. Pura demonstração da emoção sou inteira razão do seu medo de acreditar. Respiro cada letra que vejo e com meus desejos devoro em beijos a poesia que em prosa meu peito inteiro faz vibrar. Não sei qual é o começo nem onde vou terminar. Sou ser interminar. Um desvio poético para desvendar. Esfinge humana solar. Me leia sem notar. Sou invisível quando texto me faço transformar. Metamorfose literária é como posso me apresentar. Sai do teu lugar, vem se achar, quero ousadia te desconfortar. Quem sabe nos meus sonhos você está... 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A antropofagia do tempo

Revelo em versos e frases minha sensação pessoal de me sentir devorada pelo passar inevitável das horas que desesperadas me perdem consumida, dilacerada, gasta pela própria necessidade diariamente consumada de me alimentar enquanto me traz mastigada pela existência docemente maldita que escorre finita, veloz e antropofágica, impossível de ser represada, na direção inalterada naufragada do nada. Não existem retornos possíveis em vida na estrada. A cada passo o medo do fim torna a boca sem fé entregue e amarga. Indefinições religiosas nos sobrevivem de esperanças fantasmas. Dizem que a história sempre é finalizada no completar da jornada, mas a suposta verdade ainda não nos foi mostrada. Seguimos para o vazio como quem segue para uma batalha. Não sabemos qual o tamanho tem a guerra da existência em que lutamos sem trégua, sem pausa. O que nos preenche? O que nos falta? Qual o sentido sem sentido destas linhas mal traçadas?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

@monicacompoesia 2010 - O que meu coração postou

Atendendo a pedidos carinhosos reuni a maioria do material que escrevi e postei de julho a dezembro de 2010 em um humilde livro sem maiores pretensões. Espero que gostem. Beijos. :])



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu?

Sou de forma irrefutável o que não deveria, o que racionalmente existir em meu peito não poderia, o que devora e me aflora fonte contaminada de onde jorra poesia, o que jamais pelo medo de não ser pela vaidade antropofágica um dia talvez hipoteticamente me consumiria. Sou a negação mais clássica da minha própria cotidiana rebeldia, uma vontade de arte indefinida maculada pela razão apodrecida que contraria a própria infertilidade moral da palavra escrita. Sou ferida que não cicatriza e se sangra inesgotável todos os dias. Não passo de uma transgressora verbal em conceitual e desnecessária hemorragia, uma idéia desgarrada de corpo e alma pela pele materializada que me conforta e arrepia ao mesmo tempo em que me mostra o que antes não havia, retirando assim, definitivamente, o sentido daquilo que em palavras achava que me moldava, racionalmente constituía. Sou alma infantil torturada e agoniada em trapos e textos transformada por uma distorcida consciente fantasia consequentemente expressada em sua mais ousada silenciosa e gritante lacuna viva de pretensa arte inconformista por uma velha vanguarda atormentada em fantasma rejuvenescida, trajetória marginal confortavelmente esquecida, rota dolorosa obrigatoriamente desconhecida, sagrada crucificação poética profanada em vitro pela vida e suas ácidas letras que sós ou ausentes cortantes e afiadas nada significam. Sou uma virgula? Não existe absoluto na matéria humana que se alimenta sendo consumida, no pensamento que se manifesta cegamente como nevoa protetora que entorpecidamente de forma assustadora não se dissipa. Sou minha própria jornada que a si mesma desacredita ao enxergar a verdade imaginada que em olhos nus indecente se materializa desprovida de toda norma ditatorialmente imposta e sentida para negar aquilo que só a palavra criada dilacerada desconstruída é capaz de despertar em pesadelos sem estar adormecida, sem ter sido sonhada, sem ter sido pretendida, sem ter sido confrontada, sem ter sido agredida, surrada, combatida, derrotada, falsamente destruída. Sou uma espécie de inconformidade com a formalidade redigida que se dá através da cumplicidade com a palavra entrelinhas não dita, um ato de transformar o que a palavra unicamente não modifica com a duvidosa coragem a desenhar almas caligráficas imaterializadas como forma agressiva de expressão artística, maturidade não reconhecida atemporal e perdida, literário ventre da metade traçada linearmente escondida, história solitária e coletiva de esfomeados individualizados artistas. Sem mais palavras. Eu?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Inspiração

Uma vontade feroz e descontrolada me chega violenta sem ser convidada rasgando meu peito com desejos em brasa, me querendo ver versada e apaixonada. Respiro sem medo racionalmente alucinada minha necessidade nubladamente clara de com meus dedos em movimento atravessar a fronteira densa, antes impensada, da criatividade urgente transformada sensorialmente em palavra. Me entrego sem nenhuma condição de tempo previamente mensurada ao que antes simplesmente denso sentimento agora era nada, folha em branco onde sem constrangimentos nua me deixo invisível descrevendo o desespero que vou mordendo entre sorrisos, silêncios e lágrimas. Me penso real e imaginária, me desfaço metáforas sangradas, me reinvento, me corrijo, me reescrevo, até sentir pela sensibilidade jorrada um corpo inteiro, perfeito no texto em que emocionalmente filmada me acho improvável, abstrata. Ainda inconformada me volto insistente e virtualmente cansada ao tudo sem nada, a estrutura isolada incapaz de já ser compreendida, percebida, acolhida, compartilhada. Reparo, desconcerto, observo, me afirmo, me nego e ainda sinto avassaladoramente urgente que necessariamente perder é o que me falta. Percebo a incerteza de não ter conseguido encontrar angustiada a forma encantada, precisa, verbalmente imaginada. Tento teimosa e indeterminada concluir a tarefa que em meu corpo foi sem consentimento pela alma inseminada. Imagino com paciência o universo das letras frutificadas que unidas, paridas, me deixam mais humanamente semente germinada. Processo lento de lapidação atormentada que meu coração com sua solitária ausente calma, trancafiado devorava enquanto em segredo se punia e aguardava. Nada me sobra ao que me falta além da luta pela quase impossível medida definida, esculpida, concretizada. Cada linha musicalmente na métrica inserida afinada no instrumental contexto da historia acusticamente orquestrada. Transpiro a sinfonia não audível que desvendo humildemente nessa inglória mental jornada braçal de literatura em prosa poeticamente operária. Obra que quando concluída é minha marginal morada, em meu corpo publicamente refugiada, de sonhos e pesadelos edificada, minha carne indecente pelo ato de se ler supostamente espelhada. Aberta, escancarada para ser vivida em partidas e chegadas pelo leitor sempre retroalimentadas.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A anatomia de uma poeta - Por ela

Hoje resolvi revelar minha anatomia de poeta. Minha alma mais publicamente secreta, meu poço sem fundo de contradições, minha ausência de norma, de forma, de estética. Aqui estou de palavra aberta, rasgada e poética para contar uma historia que conta outras que contam ela. Uma trajetória verdadeiramente em prosa de quem se fez pelo mundo declamante de sonhos e idéias. Se eu nasci não sei ao certo, mas acho que existo. E isso talvez seja um começo, meu inicio, precipitada em precipício. Na infância, isso eu ainda lembro, escrevia muito, criava desenhos, historias de pulavam de um pensamento que eu nem sonhava que existia. Tempos depois me explicaram cuidadosamente que era poesia. Eu jamais imaginaria que a minha vida se tornaria um desconcerto sinfonicamente constante de versos e contradições de gigante nessa minha alma de menina aproximadamente distante. Com infante alegria eu sem perceber percebia que a literatura já me consumia. Na adolescência quanto mais eu crescia menos eu queria. Só que eu não controlava a arte que me colocava ali, sem fantasia, de cara limpa, inconseqüente, pseudo adulta em urgentes versorragias. Cresci e não me aprendi. Usei todos os métodos para ser racional, normal. Nada funcionou mas não me fugi. Descobri que só restou alma e palavra. Poetei assim, na minha própria cara, meio assustada com tanto sentimento presente que eu realmente, talvez e sempre, imaginava. Eu não crescia e poetava. Era eu a mesma pequena escrevendo palavra a palavra, rabiscando textos achando que não eram, e não são, nada. Certo dia entre sorrisos e lagrimas constatei que a minha anatomia é hemorragicamente versada. Cada palavra me tem uma função precisa, uma ação capaz de ser só, por ela realizada, um movimento, uma estrutura, uma forma integrada a outras tantas significantes palavras. Decidi expor aqui cada uma delas explicitamente, sem mascaras. Eis aqui a anatomia docemente maldita que constitui a minha alma. Sangrada.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Era uma vez uma fada...



Era uma vez uma fada encantada que sonhava sentada em um banco de praça com o dia em que estaria por um príncipe perdidamente apaixonada. Mulher menina, em seus doces sonhos rodopiava feito bailarina mágica, poeta sem palavras, somente coração e alma. Ficava lá horas parada delirando extasiada com a historia que sem ser contada enfeitiçava sua vida de uma forma que no futuro se apresentaria surpreendente e inesperada. Certo dia quando o anoitecer já se aproximava a imaginação mais uma vez com ela brincava. Só que uma coisa nova dessa vez se dava. Aos seus pés misteriosamente uma folha verde delicadamente se transformava em uma pequena figura humanamente simpática. Sem dizer absolutamente nada estendeu a mão e a convidou gentilmente a bailar naquela praça. Ela, tímida e assustada, a principio teve medo, mas acabou aceitando o convite para dançar uma musica que não sabia de onde vinha nem quem cantava. Deram-se as mãos. Nesse momento o corpo daquele pequeno ser verde do tamanho do dela ficava. Seus corpos unidos em doces sorrisos inundavam de carinho toda a cidade que sem sonhar sonhava A noite chegou, depois a madrugada, mesmo assim a musica não cessava. Ficaram na praça sem se dar conta de absolutamente nada. Amanhecia. Chegava infelizmente a realidade com o dia. Assustada com toda diferença que através dos seus olhos percebia soltou sua mão e a sua vida por incompreensão e covardia sem ouvir um segundo tudo que seu coração argumentava. Imediatamente se desfez o encanto. Ele voltou a ser a folha no chão que antes se transformara na viva poesia que esperava tanto. Se sentiu paralisada pela dor de sua alma que ao se fazer de medo antecipara a hora da despedida, abandonando para não ser abandonada, a figura mais doce e recíproca que já amara. Se arrependeu tristemente ensolarada. Dizem que ela até hoje guarda a tal folha no mesmo banco da praça....

Para @isv5 Isa Silva que fotografou, gentilmente escolheu a imagem para a criação do texto e autorizou a publicação da mesma aqui.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Resposta ao tempo

Sentia tocar em sua alma suave o carinho do vento. Pensava com toda a força do seu sentimento o motivo de não conseguir mais sorrir, de não poder mais acreditar que é possível sentir, ser feliz, amar, viver com prazer o que é intenso. Ficou em silencio durante longo tempo deitada no colo dos seus pensamentos só para buscar uma resposta para as interrogações que nela provocavam medo, só para descobrir como superar a dor de um angustiante momento. Pensou na sua alma como um deserto onde não conhecia oásis por perto. Certo dia acordou, não estava mais ali. Seus olhos tiveram a coragem de fugir. Buscavam eles um corpo incerto que vagava aos pedaços em seus sonhos poéticos incapazes de se traduzir, de se explicar, definir, só para atordoar os desejos que ela não ousava mais fingir. Como se fosse uma resposta  se conheceram e aos poucos foram se envolvendo, seus corpos em estrondoso movimento gritavam silêncios para seguirem, contrariando todas as possibilidades de fracasso do que estava acontecendo, ir além das divergências de um relacionamento na direção contrária do passar do tempo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Volta

Ontem no silencio da noite escura ela deixou a imaginação partir a sua procura. Seus olhos que vazios choravam contrariavam os seus sonhos e avisavam que ali não te enxergavam. Seu coração apertado se sentindo ferido, ensanguentado, magoado, esperava sufocado pelos carinhos, pelo seu beijo, pelo seu abraço. Não conseguia ela encostar seu corpo exausto e em pedaços na sua cama vazia preenchida por detalhes tão delicados que marcavam seus lençóis pelos limites ultrapassados que deixavam de desejo eternos e doces rastros. Não acreditando mais na possibilidade do encontro ser reeditado, ela ainda assim pedia a sua volta em um momento surpreendente e inesperado. Esperava sua chegada pela porta aberta de uma mulher que não era capaz de entender como dois seres que muito se amavam conseguiam sofrendo viver separados.


Para Teresa.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

De amor e anjos

Sonhei um dia que o amor morria alvejado por tiros descontrolados pela mais letal ausência de beijos e abraços. Todos os olhos secaram, as bocas antes vermelhas esverdearam, os corpos ficaram intocados, os desejos se apagaram, os medos se agigantaram, os que estavam perto se separaram, os que estavam longe não se aproximaram, o que era frio ganhou espaço, o que era ardente foi apagado. Os olhares ficaram desencantados, os sabores amargos, os cheiros sufocados, o som abafado. Não existia mais toque, sentido, pecado. As madrugadas perderam o que tinham de mais sagrado, o segredo, o não revelado. Não havia mais ninguém ao lado, colado, encaixado. Era o fim do mundo, era o fim de tudo, acabado. Acordei. Vi um doce menino de asas sorrindo na minha cama sentado. Falava me olhando com carinho e cuidado que tudo tinha sido um sonho, que enquanto existirem anjos o amor está a salvo. Eternizado.


Para Vilma e Rita.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Era uma vez..




Era uma vez uma menina nuvem e um menino terra. Os dois se gostavam muito, mas ele não conseguia chegar perto dela.  Do chão ele olhava encantado para a menina de vestido azul e sorriso largo. Ela lá de cima olhava para baixo, para aquele menino que apesar da roupa negra tinha por ela um coração imenso, uma delicadeza de poeta e um jeito calmo. Ficavam os dois, cada um do seu lado, imaginando uma forma de ficarem juntos, felizes, em contato, um perto do outro, abraçados. Pensavam, pensavam e não encontravam. Certo dia, borboletas que todos os dias passeavam pelo lugar onde os dois a distância conversavam começaram a observar o drama que eles viviam com atenção e preocupadas. Como elas poderiam deixar um sentimento tão lindo separado, cada pedaço para um canto, sem conseguir alcançar a magia do contato? Concluíram então que precisavam fazer algo. Foram elas ao mágico dos sonhos e pediram um equipamento fantástico capaz de fazer voar o menino até o espaço onde ficam as nuvens sem nenhum risco e com todo cuidado para não machucá-lo. Receberam então um aparelho engraçado, um patinete planador para dias ensolarados. Só que tinha um problema. O combustível precisava ser providenciado. As borboletas espertas resolveram isso rápido. Retiraram um pó de suas asas e espalharam no patinete por todos os lados. Ficou um espetáculo. Felizes, levaram rapidamente ao menino e o ensinaram as manobras mais diferentes para que se divertisse com a nuvem durante o passeio tão ansiosamente por eles esperado. Mal aprendeu o funcionamento subiu o menino no equipamento todo apressado. Chegou de surpresa até a menina nuvem e chorando sorrindo lhe deu um abraço. Agora o amor dos dois poderia ser materializado.

Texto inspirado no desenho do amigo e poeta @Ruy_Barros. A ele o meu sincero agradecimento pela permissão do uso da imagem acima aqui no blog. Obrigada Ruy.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Reencontro - Ou os dois lados da mesma viagem

Sabia partir como quem desconhece a doce hora de voltar, como quem não se impede de sonhos materializar, como quem não esquece de quem conseguiu deixar, como quem não tem medo de se entregar. Observava em sua viagem que toda paisagem, cada pintura, cada escultura, cada imagem, trazia no fundo um traço delicado de saudade que merecia ser admirado com poesia e sensibilidade. Aprendia exercitando a sua saudade que toda dor que parte também é capaz de reconstruir felicidade, basta fazer brotar no peito uma infante coragem e na alma uma sábia simplicidade. Que sempre sejam feitas todas as vontades, que para tudo que o coração deseja nunca seja tarde. Que saber reencontrar seja a mais linda de todas as artes, feita de cumplicidade, amor e liberdade. Que ela traga em si a sua própria verdade e com ela o dom da eternidade.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um sonho de coração

Um menino feliz adorava
fazer do coração doce e azul
de alguém que o amava
uma doce e confortável almofada
para descansar seu corpo
para acarinhar sua alma
para se proteger um pouco
para amar alem das palavras

Ali o menino relaxava
para se proteger do mundo
para apagar as magoas
para deixar de ser inseguro
para secar suas lagrimas

Aquele coração confortável
que o menino amava
também no sono dele sonhava
Tinha com ele um cuidado
Dos que se preocupavam
E queriam ver seu bem
Em todos os caminhos trilhados

Com carinho inexplicavel
Segurava o menino bem apertado
para não deixa-lo cair
para faze-lo sentir
Que estava sempre ao seu lado
O mantendo sempre aquecido
Com um doce sorriso
e um enternecido abraço

Era o coração azul
O colo mais lindo
E mais encantado
Que alguém poderia
Um dia ter em vida e sonho encontrado
Eram dois
Coração e menino apaixonados

Ao amigo @Ruy_Barros que me inspirou com seu doce desenho e as crianças que moram no coração de todos nós.