quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pseudo ensaio sobre poetas e versadores

Escrever não é a arte dos sonhadores, mas sim uma forma de inadministrar todas as incontroláveis dores e os sentimentos mais devoradores que ficam a fantasmagar pelos corações que de tanto versar não se sabem pensadores. Escrever é um dos atos mais desesperadores, uma mistura alucinada de ódios e amores, uma necessidade antropofágica de entorpecimentos criativos e criadores, uma droga barata de doces efeitos devastadores na pele maldita em corpos de papel inquietos e provocadores da própria palavra silenciada diante dos seus olhos infiéis e inquisidores. É transformar em espinhosas flores as letras que se ferem quando tem sua anatomia inocentemente modificada por instintos transgressores que desabam mares intermitentes de descontrole pelas sangrentas mãos machucadas por desejos libertadores. Jardim onde dedos indecentes e agressores durante a árdua  batalha literária esfregam feridas urgentes de amores  literariamente forjadas como prova da luta feroz em silencio cegamente travada por ousados temores. É o disparar sem nenhuma conseqüência racionalmente esperada com armas de carne poeticamente lapidada projéteis de vida em algum peito marginal que resiste de forma heroicamente acovardada a ter só uma única razão definida na alma. Escrever é mortal. Sobrevive a paixão visceral. Estado inconstantemente terminal. Entranha emoção. Dilacera por opção. Morre e vive. Em nós.
Cabe ao poeta se desatar entre nós através da representação gráfica e inesperada lentamente imediata da solitária voz que ensurdece as confissões mais primárias, represadas e contaminadas por um medo inconsciente e feroz durante a relação diária individualmente coletiva fisicamente estabelecida entre pessoas friamente nelas mesmas esquecidas durante o pleno exercício de uma superficialidade consentida por uma sociedade absurdamente construída de ausências de si. Atroz. Restos de raso. Desertos. Miragens em um verso. Secretos. Mistérios. Revelados por seres incompletos. Estéticos. Sem senso. Proféticos. Além do belo em seu universo. Desconexos. Dentro de um padrão que espelhado não permite reflexos. Por defesa de seu mundo entreaberto. Despertam. Auto predadores de sabores métricos. Suas próprias presas. Mordem verbais a norma que não se obrigam. Escrevem porque precisam e duvidam.
Se negam poetas e se portam como cruéis versadores, nobres sem estirpe, auto endeusados, amoralizados senhoras e senhores, donos de uma autoridade ditatorial que se esconde cheia de literários maus odores em falsas verdades apodrecidas dos que da arte se acham únicos sabedores e legítimos detentores. Hierarquizam mentalmente como se fossem grandes conhecedores o nível de prazer dos que consideram candidatos depois de seus ensinamentos imaculados a escritores. Relegam a último plano o desejo legitimo de todos serem sem medos repressores poéticos criadores. Desrespeitam os transgressores sem entender seu sentido. Vivem para descaracterizar o indefinido. Obrigam todos a eles darem ouvidos. Torturam com suas idéias os que se negam a isso. Liberdade para estes é suicídio.

Em fins, recomeçamos. Escrevemos sem limites, destinos, métricas, teorias ou planos. Estamos. E não nos cabe mais que isso. Precisamos. E em virtude disso pelo direito a paz lutamos. Mesmo que o preço para tanta coragem seja o precipício cavado por seres que detestam a sinceridade com que nos expressamos. Não lamentamos. Seguimos vivos, humildes e humanos. Não nos negamos. A ferro e fogo escrevemos o que pensamos. Ousamos. Não toleramos os que tentam nos dizer quem ou o que somos. Contrariando quem pensa que nos maltrata democraticamente nos rebelamos. Poetas. Somos e ponto. Final.

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