terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu?

Sou de forma irrefutável o que não deveria, o que racionalmente existir em meu peito não poderia, o que devora e me aflora fonte contaminada de onde jorra poesia, o que jamais pelo medo de não ser pela vaidade antropofágica um dia talvez hipoteticamente me consumiria. Sou a negação mais clássica da minha própria cotidiana rebeldia, uma vontade de arte indefinida maculada pela razão apodrecida que contraria a própria infertilidade moral da palavra escrita. Sou ferida que não cicatriza e se sangra inesgotável todos os dias. Não passo de uma transgressora verbal em conceitual e desnecessária hemorragia, uma idéia desgarrada de corpo e alma pela pele materializada que me conforta e arrepia ao mesmo tempo em que me mostra o que antes não havia, retirando assim, definitivamente, o sentido daquilo que em palavras achava que me moldava, racionalmente constituía. Sou alma infantil torturada e agoniada em trapos e textos transformada por uma distorcida consciente fantasia consequentemente expressada em sua mais ousada silenciosa e gritante lacuna viva de pretensa arte inconformista por uma velha vanguarda atormentada em fantasma rejuvenescida, trajetória marginal confortavelmente esquecida, rota dolorosa obrigatoriamente desconhecida, sagrada crucificação poética profanada em vitro pela vida e suas ácidas letras que sós ou ausentes cortantes e afiadas nada significam. Sou uma virgula? Não existe absoluto na matéria humana que se alimenta sendo consumida, no pensamento que se manifesta cegamente como nevoa protetora que entorpecidamente de forma assustadora não se dissipa. Sou minha própria jornada que a si mesma desacredita ao enxergar a verdade imaginada que em olhos nus indecente se materializa desprovida de toda norma ditatorialmente imposta e sentida para negar aquilo que só a palavra criada dilacerada desconstruída é capaz de despertar em pesadelos sem estar adormecida, sem ter sido sonhada, sem ter sido pretendida, sem ter sido confrontada, sem ter sido agredida, surrada, combatida, derrotada, falsamente destruída. Sou uma espécie de inconformidade com a formalidade redigida que se dá através da cumplicidade com a palavra entrelinhas não dita, um ato de transformar o que a palavra unicamente não modifica com a duvidosa coragem a desenhar almas caligráficas imaterializadas como forma agressiva de expressão artística, maturidade não reconhecida atemporal e perdida, literário ventre da metade traçada linearmente escondida, história solitária e coletiva de esfomeados individualizados artistas. Sem mais palavras. Eu?

4 comentários:

  1. Nossa, que maravilhoso esse texto(nao gosto da palavra texto, soa fria e impessoal), enfim. estou te aplaudindo de pé por tão valorosas palavras, muito ricas e profundas.
    Abraços, sou do seu Facebook, te seguindo.

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  2. Monica já deixei mensagem lá no facebook, mas volto a reler e tomada por teu fôlego digo que o EU? é um mar de insanas certezas que deságua no cero momento de criar, para vivermos em mergulhos de palavras plenas.

    Um beijo grande.

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  3. Vc é esse doce de poesia que aprecio todos os dias!!!

    Beijos linda!!!!!^^

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  4. Ah... acho que também sou um pouquinho de tudo isso aí!

    Humanos, demasiadamente humanos!

    Beijos e obrigada por nos traduzir SEMPRE!

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